Fazer doutorado no exterior é o sonho de muita gente. É uma oportunidade única de melhorar o currículo, garantir melhores empregos, conhecer novas pessoas e, acima de tudo, conhecer você mesmo. Nesse sentido, a França é uma ótima escolha: o país é conhecido pelo alto investimento em educação, oferece diversos tipos de bolsas em excelentes universidades e possui algumas parcerias com agências de fomento de pesquisa brasileiras. Por isso, neste artigo iremos esclarecer todas as suas dúvidas sobre como fazer um doutorado na França.

Prédio de uma Universidade, no final de uma rua.
Índice Como fazer doutorado na França? Como é o processo seletivo para o doutorado na França? Quanto custa um doutorado na França? Existe bolsa para doutorado na França? Como fazer um doutorado sanduíche na França? É possível fazer um doutorado à distância? Precisa falar francês para fazer doutorado na França? Vale a pena fazer doutorado na França?

Como fazer doutorado na França?

O doutorado é o mais alto diploma de ensino superior e consiste na realização de uma pesquisa que, após três anos, deve ser defendida e apresentada no formato de uma tese, perante uma banca formada por pessoas detentoras do título de doutor ou doutora.

Para que um candidato possa concorrer a uma vaga de doutorado na França é preciso que ele seja titular de um diploma de mestrado ou de um nível equivalente, conforme a lei francesa. Você pode conseguir essa equivalência através do processo de validação de diplomas estrangeiros.

Para fazer um doutorado na França, você precisa se inscrever em um estabelecimento de ensino que esteja apto a entregar diplomas de doutorado. Tais estabelecimentos ganham o nome de École Doctorale. Ainda que haja uma série de Universidades de excelência no país, não são todas que possuem uma École Doctorale.

Os estabelecimentos aptos a inscrever estudantes para o doutorado estão registrados no Anuário de escolas doutorais.

Experiência de brasileira doutoranda na França

Para ilustrar as informações, fizemos uma entrevista com Ana Carina Sabadin, doutoranda em sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e, atualmente, em doutorado sanduíche na França, no Laboratoire Eau, Environnement et Système urbains, da École des Ponts Paristech.

Ela, que está no segundo de seus seis meses na capital francesa, nos contou como desde a graduação ela escuta que:

“Paris é a esquina da sociologia, que muitos pesquisadores e pesquisadoras passaram, estão passando e vão passar por aqui. É como se fosse um ponto de encontro de teorias, temas de pesquisa”.

Estrutura do doutorado na França

É a Escola Doutoral que vai oferecer a estrutura científica necessária e personalizada para que o candidato possa preparar sua tese. Há vários dispositivos para isso:

  • Enquadrar o aluno sob a responsabilidade de um ou mais orientadores, que acompanharão o processo de pesquisa;
  • Inserir os estudantes em uma Unité de Recherche, onde ele efetuará seus trabalhos de pesquisa e participará das atividades do laboratório;
  • Oferecer opções de Enseignements e Séminaires, que no Brasil seria o equivalente a disciplinas.

Um comitê de acompanhamento também se preocupa em favorecer a inserção profissional do futuro doutor, promover encontros com outros pesquisadores e incentivar a internacionalização. Assim, é comum que os doutorandos e doutorandas sejam convidados a:

  • Se inscrever em reuniões científicas nacionais e internacionais;
  • Publicar suas produções;
  • Seguir um plano de formação personalizado.

Interdisciplinaridade

Muitas dessas escolas também promovem um ensino interdisciplinar. No caso de Ana, nossa entrevistada, ela conta que o laboratório em que ela está vinculada, o Leesu, é um dos 12 laboratórios de sua École e todos eles possuem um objetivo transversal: refletir sobre os desafios da transição energética na França.

O grupo em que ela está inserida, por exemplo, é composto por pesquisadores da sociologia, antropologia, agronomia, física, entre outros.

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Nesse sentido, muitos laboratórios de Escolas Doutorais na França acabam compartilhando um mesmo Campus, exatamente para que se promova o contato entre pesquisadores de diferentes instituições. É o caso do Campus Condorcet, em Aubervilliers, no norte de Paris, que conta com laboratórios tanto da Sorbonne Nouvelle, como da École des Hautes Études en Sciences Sociales.

Como é o processo seletivo para o doutorado na França?

Ainda que também seja considerado uma pós-graduação, o processo seletivo do doutorado é completamente diferente daquele realizado para se inscrever no mestrado na França. No entanto, tanto um quanto outro deve ser realizado via Campus France, agência oficial do governo francês responsável pela promoção, no estrangeiro, do ensino superior na França.

Aliás, a Campus France acaba sendo o melhor canal para encontrar informações atualizadas sobre todas as etapas burocráticas do processo seletivo para doutorado na França, como nos mostra o vídeo abaixo.

1. Busca nas Escolas Doutorais

O primeiro passo para se inscrever em um processo seletivo de doutorado na França é uma busca no anuário de escolas doutorais ou unidades de pesquisa. Tal pesquisa deve ser realizada a partir de filtros com os temas e áreas do conhecimento que te interessam.

Nesse anuário, são apresentados também os pesquisadores (e seus respectivos contatos) das escolas e unidades de pesquisa que são aptos a dirigir uma pesquisa de doutorado, isto é, que são titulares de uma “Habilitation à Diriger les Recherches” (HDR).

2. Contato com professores

Em seguida, você deve entrar em contato com o professor com quem você gostaria de trabalhar. Veremos adiante, com o caso da Ana e do doutorado sanduíche, que ainda que o processo seletivo seja diferente, essa parte é bastante semelhante. Ela ressalta como houve “um esforço, uma mobilização de uma rede anterior à minha vinda, para conseguir contato” com o pesquisador do interesse dela.

Caso você não conte com uma rede de contatos que possa intermediar essas primeiras conversas, o ideal é que você envie um e-mail apresentando-se. Junto, envie também um pequeno resumo do projeto que você pretende desenvolver com ele.

Estabeleça um bom contato com o possível orientador

Mas, lembre-se que você mesmo irá delinear o tema de pesquisa junto ao de seu orientador! De modo geral, o orientador escolhe quem quer orientar. Então, para você ter mais chances de ser aceito, esteja aberto a mudar de tema e a aceitar sugestões.

Caso o orientador se interesse pelo seu tema, peça mais instruções sobre como deve ser o projeto completo que você deve enviar: normalmente, ele deve ter de 2 a 3 páginas e apresentar os objetivos, a metodologia, a base teórica, as etapas do processo, o que você pretende provar, dentre outros detalhes.

Uma vez que seu futuro orientador de pesquisa concordou com o projeto enviado, você deve entrar em contato com o responsável da equipe de pesquisa da École escolhida, que vai lhe orientar quanto aos procedimentos de inscrição. De maneira geral, é comum que seja solicitado, além do projeto de pesquisa:

  • Uma documentação de sua formação universitária;
  • Um atestado de conhecimento da língua francesa.

A depender do caso, também são solicitadas cartas de recomendação e de motivação. Depois disso, é necessário aguardar que a escola doutoral valide o procedimento para que você possa se inscrever.

3. Admissão

Uma vez admitido na École Doctorale, o estudante deve realizar o procedimento Campus France, para obter um visto de estudante. Caso a Universidade emita uma Convention d’Accueil (ela é emitida de acordo com o valor da bolsa que você vai receber pelo doutorado), você deverá solicitar um visto de pesquisador e, portanto, estará dispensado do procedimento pré-consular Campus France.

É importante salientar que na França algumas escolas doutorais exigem que o aluno seja financiado, ou através do governo de seu país, ou com as bolsas de estudo oferecidas.

Isso acontece porque o tempo de pesquisa de doutorado impossibilita que uma pessoa estudetrabalhe ao mesmo tempo. Por exemplo, geralmente, todas as formações na área de exatas exigem um financiamento.

A admissão pode demorar um pouco

Com tantas etapas, documentos e necessidade de resposta, nem precisamos mencionar que este processo costuma ser um tanto demorado, não é mesmo?

Por isso, se a sua ideia for um dia fazer doutorado na França, comece a se preparar desde já. Importante também é ter em mente que o calendário universitário na França tem início em setembro. Dessa forma, o ideal é que você inicie os contatos com os professores a partir de julho.

Quanto custa um doutorado na França?

Todas as escolas doutorais da França estão diretamente ligadas às Universidades (Universités) e, portanto, possuem parte de suas despesas custeadas pelo governo. Elas são Universidades públicas, contudo, não são gratuitas.

De acordo com o Campus France, no ano universitário 2021-2022, a taxa para fazer um doutorado na França é de 380€ por ano. O valor é válido tanto para estudantes europeus quanto não-europeus.

Essa é a taxa mais baixa, se comparada aos outros níveis de ensino. Só para ilustrar, a graduação conta com a taxa de 2.770€ por ano e o mestrado, 3.770€ para estudantes não-europeus.

Outros gastos com o doutorado

Porém, este não é o único valor que você deve levar em conta ao programar seu estudo de doutorado na França. Considere também o custo de vida no país, que varia bastante de cidade para cidade.

Por exemplo, um estudante com menos de 26 anos tem um gasto médio em Paris de 840€ mensais, considerando aluguel em uma residência universitária, refeições em restaurantes universitários, compras no mercado, museus, transporte e chip de celular com internet.

Existe bolsa para doutorado na França?

Sim, existe uma série de bolsas para doutorado na França. As ofertas de financiamento dependerão muito do seu caso e, principalmente, da sua área de estudos.

Financiando seu doutorado na França

É comum os financiamentos para a realização de um doutorado na França. A depender de sua situação, tanto a escola doutoral, quanto órgãos governamentais, uma empresa ou a União Europeia podem financiar sua pesquisa.

Há alguns passos a seguir se você está à procura de um financiamento doutoral. O primeiro deles é verificar se a École Doctorale de seu interesse exige um financiamento mínimo para que você faça a sua inscrição. Essa informação está indicada no anuário das escolas doutorais, indicado acima.

Verifique também junto à escola, a seus laboratórios e unidades de pesquisa se há editais com possibilidade de financiamento via contrato para alguns temas específicos.

Fachada de uma Universidade de doutorado na França.
O valor de um curso de doutorado nas Universidades da França é de 380 euros anuais.

Após isso, vale dar uma olhada no catálogo Campus Bourses. Aqui, você pode checar se há possibilidade do seu doutorado ser financiado pela escola doutoral, por uma empresa, por órgãos e agências governamentais, ou até mesmo pela sua universidade no Brasil.

Por fim, faça uma busca junto a Associação Nacional de Doutores, que publica anualmente um guia para financiamento de doutorado na França.

Tipos de financiamento de doutorado na França

Normalmente, os financiamentos via contrato podem ser feitos com a sua própria Escola Doutoral, um órgão de pesquisa francês (como CNES, CNRS, CEA, entre outros) ou com a Agence Nationale de Recherche (ANR). O valor de todos os três variam de 1.400€ a 1.500€ por mês e possuem a duração de três anos, com possibilidade de renovação.

Também não é raro que os doutorados sejam financiados por uma empresa, via contrato de trabalho particular. Isso é permitido graças à ferramenta de Convenções Industriais de Formação pela Pesquisa (CIFRE), em parceria com a Association Nationale de la Recherche et de la Technologie – ANRT). Os valores para essa modalidade são de cerca de 1.800€ por mês, durante três anos.

Por fim, um doutorado na França também pode ser financiado pela União Europeia, através do programa Marie Sklodowska-Curie. Voltado a estudantes estrangeiros inscritos no doutorado em uma instituição de ensino superior europeia que façam parte de um convênio entre, no mínimo, três instituições de três países diferentes, o financiamento pode ser de até 36 meses.

Financiamento no Brasil

No Brasil, agências de fomento federais, como a Capes ou CNPq, bem como fundações de pesquisa estaduais, oferecem opções de financiamento para sua pesquisa doutoral. Nessa modalidade, o financiamento mais comum é o doutorado sanduíche.

A Ana nos conta, por exemplo, que a Universidade dela do Brasil abriu um edital de bolsas de internacionalização do programa CAPES-PRINT. Falaremos detalhes do processo seletivo mais abaixo, mas, segundo ela, a partir do resultado obtido, os discentes foram selecionados a partir de áreas temáticas.

Como fazer um doutorado sanduíche na França?

Se você tem interesse em realizar seus estudos de doutorado da França, a opção de se inscrever diretamente no país não é a única. Nesse sentido, o doutorado sanduíche é uma ótima ideia e possui cada vez mais adeptos. No doutorado sanduíche, você passa um período em outro país, que dura de 6 meses a 1 ano, realizando uma parte de sua pesquisa.

Contudo, sua aprovação no processo seletivo de doutorado, bem como a defesa de sua tese deve ser feita em uma Universidade brasileira.

Busque o financiamento

A candidatura ao doutorado sanduíche vai depender muito de qual é sua forma de financiamento. Inclusive, obter um financiamento é exatamente o primeiro passo que você deve dar, caso queira fazer um doutorado sanduíche na França.

Ainda que nos últimos anos muitas bolsas desse tipo tenham sido cortadas, essas iniciativas a favor da internacionalização dos pesquisadores e pesquisadoras do Brasil ainda existem.

A busca pelo financiamento, bem como o processo seletivo do doutorado sanduíche, é cansativo e burocrático, no entanto, ele certamente vale muito a pena. Isso porque esse tipo de financiamento cobre todo ou pelo menos grande parte de seus custos com a viagem, como:

  • Passagem aérea;
  • Visto;
  • Seguro saúde;
  • Auxílio instalação, entre outros.

Isso sem contar as mensalidades que você recebe ao longo do período de seus estudos, que permitem uma manutenção bastante confortável no país estrangeiro. Para que você tenha uma ideia, os valores de bolsa para doutorado sanduíche no exterior podem chegar até 1.700€ mensais.

Veja quais são as opções de financiamento para doutorado sanduíche na França:

Doutorado sanduíche na França com fundações de pesquisa estaduais

Uma vez aprovado no processo seletivo de doutorado em uma Universidade brasileira, você pode solicitar o financiamento de sua pesquisa para alguma fundação de pesquisa estadual. No Estado de São Paulo, por exemplo, temos a FAPESP.

Se aprovado, a fundação em questão vai financiar sua pesquisa no Brasil. Considerando que os cursos de doutorado no país costumam durar em média 4 anos, esse será o período em que você ganhará o financiamento em questão.

Paineis de informação sobre doutorado na França, em uma Universidade.
O Campus Condorcet reúne laboratórios de várias escolas doutorais de Paris. Eles recebem vários estudantes brasileiros que realizam doutorado sanduíche.

Esse financiamento da pesquisa no Brasil, por sua vez, te dá acesso a fazer uma segunda solicitação: o financiamento da pesquisa em outro país, com a duração de 6 meses a 1 ano. Para que a fundação de financiamento aprove essa segunda solicitação, é necessário que você

  • Esteja há mais de um ano com sua pesquisa sendo financiada no Brasil;
  • Tenha finalizado todas ou a maioria das disciplinas de doutorado no Brasil;
  • Obtenha o aceite de um professor de uma Universidade estrangeira em supervisionar seu doutorado sanduíche;
  • Comprove proficiência no idioma do país escolhido;
  • Redija uma carta de motivação, bem como uma justificativa do país e Universidade escolhidos, entre outros.

O período de análise da sua solicitação de financiamento para o doutorado sanduíche pode durar até 3 meses.

Doutorado sanduíche na França com agências de fomento federais

Aqui, o passo a passo acaba sendo diferente do primeiro caso que vimos. Assim como as fundações, essas agências também dedicam seu financiamento às pesquisas realizadas no Brasil.

Mas você não pode solicitar um financiamento ao doutorado sanduíche diretamente com a agência, como são os casos acima: é preciso ficar atento às oportunidades que vão surgindo.

Como acompanhar as oportunidades?

Existem algumas maneiras de você fazer isso. A primeira é acompanhando os editais que o setor de intercâmbios de sua Universidade lança, ou as parcerias de seu Programa de Pós-graduação.

Uma outra, é investigar se seus professores mais próximos fazem parte de algum tipo de acordo, como os do Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (CAPES/COFECUB).

Por conta da multiplicidade de opções, é difícil prever de que forma é feito o processo seletivo. No entanto, alguns documentos devem sempre ser entregues, como:

  • Justificativa para fazer um doutorado sanduíche;
  • Um professor de uma Universidade estrangeira que aceite te receber;
  • Proficiência no idioma do país escolhido.

Processo seletivo do doutorado sanduíche

Vejamos como foi o caso da Ana, que participou de um processo seletivo promovido pela Universidade dela no Brasil, a UFSCar, no âmbito do projeto institucional de internacionalização da CAPES, o CAPES-PRINT.

Ela nos conta que o processo todo consistiu na avaliação de um conjunto de documentos, a saber:

“O comprovante de proficiência de francês, nível B2 no mínimo; a carta de acolhimento do supervisor daqui da França; meu currículo; o currículo de meu supervisor no Brasil; o currículo do meu supervisor na França; (…) e um plano de estudos, não apenas apresentando as atividades que eu realizaria aqui na França, mas também justificando a relevância dessa minha vinda, pensando não somente na minha pesquisa, mas na construção de redes para o meu grupo de estudos, para o meu Programa de Pós Graduação e para a minha Universidade.”

Quando perguntamos sobre o tempo de análise, ela disse que sua Universidade publicou o edital da bolsa em abril. No mês seguinte, iniciou-se o processo seletivo, e em junho ela já sabia o resultado da bolsa.

É possível fazer um doutorado à distância?

Nas palavras da Ana:

“acho que não é impossível, mas também não é a melhor saída”.

Nós do Euro Dicas, concordamos com ela por várias razões.

Primeiramente, as áreas que realmente oferecem essa opção são poucas. De maneira geral, encontramos a opção de doutorado à distância em escolas de comércio, sendo que o curso que mais se destaca é o voltado para administração de negócios, o docteur em administration des affaires, também conhecido como DBA.

A ICN Business School, em Nancy, tem a opção de DBA em Gestão da Inovação Sustentável; a Montpellier Business School, em Montpellier, também conta com um DBA, assim como a International French University, que tem o mesmo curso em Puteaux, próximo a Paris.

Mas ainda que possível, não indicamos que você faça um doutorado à distância. Não é à toa que não é tão fácil de encontrar tal opção. Da mesma forma, as melhores universidades de Paris, por exemplo, exigem presença física do aluno.

As dificuldades de um doutorado à distância

Pensando na questão do trabalho, estar longe da Universidade onde você está inscrito é bastante inconveniente. Isso pode apresentar problemas no nível de consulta a bibliografias específicas, contato com fontes e acesso a base de dados. Ao mesmo tempo, estar longe da Universidade pode dificultar o andamento de seu trabalho e eventuais pesquisas de campo.

Também é preciso levar em conta que você estará à parte de seu laboratório de pesquisa, bem como de sua equipe de pesquisadores, colegas e orientadores. Além disso, fazer um doutorado à distância pode complicar sua vida no nível burocrático.

Motivos para não fazer o doutorado à distância

Mesmo que o objetivo final do doutorado seja obter o título de doutor após a entrega de uma tese e que o processo de escrita seja possível de se fazer à distância, a formação doutoral não se resume a isso. Lembre-se que é preciso que você frequente alguns seminários, que ocorrem semanalmente.

Após o abrandamento dos casos de covid-19 e a volta às atividades presenciais, a opção de acessar esses encontros de maneira remota não existe mais – pelo menos, é o que mostra minha vivência na França.

Da mesma forma, se você permanece longe, você fica impossibilitado de participar de eventos, grupos de estudos, se envolver em produções coletivas e formar uma rede de contatos.

A Ana ressalta esses mesmos pontos em sua fala:

“Por exemplo, uma pessoa que faz um doutorado de cotutela e vive circulando entre os dois países (…), eu acho que funciona. Mas um doutorado inteiro, sem minimamente pisar em um país ou verificar alguns arquivos, frequentar a biblioteca, conhecer seus colegas de laboratório, conhecer supervisor, ter relações próximas e presenciais, poder assistir uma aula, poder circular por eventos e viver a cidade, viver a Universidade… Eu acho que a distância não permite tudo isso”.

Precisa falar francês para fazer doutorado na França?

Sim.

Diferente de fazer Licence (graduação) ou Mestrado, as exigências para um estudante de doutorado são maiores. Pensando na dimensão da prova de proficiência de francês, os doutorandos devem apresentar, pelo menos, o nível B2. Esse foi o caso da Ana: “Eu vim com a proficiência nível B2, que foi a exigida pelo edital que eu postulei”. Contudo, em alguns casos, o nível C1 pode ser solicitado.

Considerando a dimensão do próprio trabalho de pesquisa, é preciso ter em mente que ela é inevitavelmente mais complexa. O candidato não apenas tem que dominar a língua francesa, mas a metodologia do ensino deles e até mesmo estar familiarizado com algumas teorias.

Além disso, a vida de um doutorando exige que ele circule em ambientes de reuniões científicas, saiba se apresentar e explicar seu trabalho de pesquisa, além de argumentar e adentrar em certos debates.

Sala de estudos para estudantes de doutorado na França, em uma biblioteca.
A Bibliothèque Nationale de France, além de ter um espaço reservado aos doutorandos, também oferece atividades que ajudam os estrangeiros a falar a língua francesa.

É por isso que o doutorando na França encontra uma série de facilidades na cidade que incentivam a prática do idioma. Por exemplo, a Bibliothèque Nationale de France, além de contar com um espaço reservado somente para pesquisadores em sua estrutura, também oferece ateliês de prática oral e escrita da língua.

A Ana colocou, ainda, um outro ponto:

“Apesar de algumas Universidades, alguns laboratórios, palestras, aulas serem ministradas em inglês, a gente não circula só nesses espaços né?”.

Ela completa dizendo que é importante vir com uma bagagem de francês e com a disposição de aprender a língua, para que você consiga aproveitar todas as experiências.

Por isso, se você tem planos de fazer seu doutorado na França, comece desde já sua rotina de estudos!

Se depois de concluir o doutorado você tiver planos de continuar estudando no país, veja como funciona o pós-doutorado na França.

Vale a pena fazer doutorado na França?

Para a Ana, sim, vale muito a pena fazer doutorado na França. Em suas palavras, é uma experiência enriquecedora e muito desafiadora:

“Aqui parece que tudo acontece. Tem pesquisadores e pesquisadoras do mundo inteiro, então você acaba tendo contato com outras bibliografias, outras culturas cotidianamente. Desafiador, porque temos a questão do idioma, da comunicação, a construção de redes é algo difícil, parece que há barreiras que são culturais… esse é o desafio maior que eu venho enfrentando.”

Agora que você já sabe tudo sobre como fazer o douturado na França, reúna a documentação, prepare-se financeiramente e bons estudos! Vale a pena!