Quanto ganham os brasileiros em Portugal? A pergunta não é tão simples de ser respondida, porque as variáveis são muitas. Está numa grande cidade? Trabalha em uma multinacional ou mesmo numa empresa portuguesa de grande porte? Ganha por recibos verdes (o equivalente a trabalhar como PJ no Brasil)? É part-time ou full-time? Tem nível superior reconhecido em Portugal?

Grupo de pessoas em uma reunião de trabalho
Índice Diferença salarial entre nativos e imigrantes é comprovada Muitos trabalhadores recebem o mínimo Formação acadêmica faz a diferença, mas não garante salários maiores Traçando um perfil de imigrante Brasileiros são os que mais enviam dinheiro de Portugal Ministro defende trabalho dos imigrantes

As respostas para essas perguntas certamente influenciam no valor do salário de um brasileiro em Portugal.

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Diferença salarial entre nativos e imigrantes é comprovada

O portal do Observatório das Migrações, em seu mais recente Relatório Estatístico Anual (Indicadores de Integração dos Imigrantes), traz uma série de indicadores úteis, com base nos salários médios pagos aos estrangeiros e aos portugueses.

Segundo os dados mais recentes, em média, os brasileiros recebem cerca de 16,7% a menos do que os portugueses, como aponta o gráfico abaixo:

Remuneração média mensal dos trabalhores em Portugal
A média salarial dos brasileiros em Portugal é de 868,94€, pouco mais de 100€ acima do salário mínimo de 2023.

Disparidade entre os gêneros chama atenção

A comparação deixa ainda mais evidente o abismo em relação à diferença entre gêneros. Os salários das mulheres brasileiras é mais de 22% inferior ao salário das portuguesas (que já é menor do que o dos homens portugueses).

Vale ressaltar, porém, que a disparidade entre os sexos não se restringe ao Brasil. Observe que, na maior parte dos países pesquisados, as mulheres ganham menos do que os homens em Portugal.

A diferença salarial afeta imigrantes de diferentes nacionalidades

Outros indicadores do relatório reforçam que o problema não é apenas com o Brasil, mas sim uma realidade para boa parte da comunidade imigrante.

Pelo gráfico, também é possível notar que os cidadãos brasileiros recebem abaixo da média do salário pago à comunidade estrangeira em geral.

salário médio em Portugal
Na análise do salário médio, observa-se que brasileiros recebem salários abaixo da média nacional em Portugal.

Muitos trabalhadores recebem o mínimo

Para analisar os valores dos gráficos, é importante lembrar que os salários em Portugal costumam ser baixos para a maioria da população, seja de estrangeiros ou cidadãos locais.

Segundo o mais recente relatório do INE (Instituto Nacional de Estatísticas), referente ao terceiro trimestre de 2023, a remuneração bruta total mensal média por trabalhador foi de pouco mais de 1.400€. O valor representa um aumento de quase 6% em relação ao mesmo período de 2022.

Vale apontar que o salário mínimo em vigência é de 760€ e passará para 820€ a partir de 2024. Ou seja, a grande massa de assalariados em Portugal recebe menos do que dois salários mínimos.

Segundo o Ministério do Trabalho, cerca de 20% dos trabalhadores recebem apenas o salário mínimo. Apesar do alto índice, o Ministério informou que o percentual é o mais baixo desde 2016.

Formação acadêmica faz a diferença, mas não garante salários maiores

Apesar de a grande massa salarial ser nivelada por baixo, há algumas poucas situações em que os salários dos estrangeiros chegam a ser superiores aos dos portugueses. É o caso das posições ocupadas por trabalhadores com maior nível de qualificação, como mostra o quadro abaixo:

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salário dos trabalhadores qualificados
Diferente do que costuma acontecer com outros trabalhadores, profissionais qualificados podem ter um bom salário em Portugal.

Em determinados casos, os estrangeiros ganham quase 90% a mais do que os portugueses. Mas vale ressaltar que o fato de o profissional ter nível superior ou mesmo especializações e mestrado não significa obrigatoriamente melhores salários.

Para que isso se torne realidade, primeiro, é fundamental que o título acadêmico seja reconhecido em Portugal. Segundo, é preciso que o profissional esteja trabalhando na sua área de atuação, o que nem sempre acontece, mesmo para aqueles com formação consistente e comprovada.

Traçando um perfil de imigrante

Um caso relativamente típico de imigrante pode ajudar a ilustrar a realidade para a maioria dos brasileiros em Portugal.

José* é um profissional graduado, com alguns cursos de especialização. Nunca conseguiu trabalhar na sua área em Portugal. Mas como também fala mais de um idioma, entrou para o setor da hotelaria. Na recepção, recebia pouco mais do que o salário mínimo.

Depois de um longo período, arriscou trabalhar na restauração (setor de bares, restaurantes, cafés e afins), e também recebia pouco mais do que o mínimo. De lá, outra experiência, desta vez na área de produção de uma fábrica.

“Os salários pouco mudavam, mas não diria que era algo relacionado ao fato de ser brasileiro. Pagar em torno do salário mínimo para uma série de cargos é quase um padrão. As variações são pequenas. Por isso, eu e outros colegas brasileiros – e mesmo portugueses – acabávamos avaliando os benefícios ou particularidades de cada posição, como horários, folgas, proximidade de casa e por aí vai”, relatou José.

Segundo ele, “Portugal não é o país para ganhar grandes salários”. Dessa forma, é fundamental ter um bom planejamento, além de cabeça aberta para as oportunidades. “E próprio sistema, pela minha experiência, não favorece o crescimento na carreira e, consequentemente, no salário”, lamenta.

José finaliza compartilhando sua visão:

“No meu curto período numa fábrica, convivi com pessoas que desempenhavam a mesma função por mais de 20 anos, sem que isso tivesse representado algum ganho substancial de salário. E pelo que vejo com outros colegas brasileiros, esse é um padrão em grande parte dos setores”.

* Nome omitido a pedido do entrevistado.

Brasileiros são os que mais enviam dinheiro de Portugal

Apesar dos baixos salários e do custo de vida em Portugal cada vez mais alto, a comunidade brasileira é a que mais envia dinheiro para o país de origem a partir de Portugal. Segundo dados recentes do Banco de Portugal (2022), as remessas enviadas para Brasil, China e França corresponderam a cerca de 60% do total das remessas de imigrantes residentes no país luso.

Em 2010, os imigrantes brasileiros já eram os que mais enviavam remessas para as suas famílias, seguidos pelos ucranianos e chineses. Em um intervalo de 10 anos, os chineses duplicaram o montante de remessas internacionais para o seu país de origem, passando a ocupar a segunda posição.

De janeiro a setembro deste ano, os brasileiros residentes em Portugal enviaram pouco mais de 212 milhões de euros para suas famílias no Brasil, valor 10% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.

Ministro defende trabalho dos imigrantes

Em recente entrevista ao jornal Expresso, o Ministro das Finanças, defendeu a importância do trabalho das comunidades estrangeiras para a economia de Portugal. Segundo Fernando Medina, os imigrantes já representam 13% da população empregada em Portugal.

Ele argumentou que valorizar a atração e acolhimento de imigrantes é fundamental, já que a presença dos trabalhadores estrangeiros é essencial ao crescimento econômico do país.

“Desde 2017, assistimos a saldos migratórios positivos num total acumulado de 323 mil pessoas. Hoje, e sublinho a importância deste número, mais de 600 mil trabalhadores estrangeiros integram a nossa força de trabalho”.

Os números se confirmaram em recente apresentação da Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

“No final de abril de 2023, havia 650 mil trabalhadores estrangeiros contribuindo para a Segurança Social. Em 2015, eram 140 mil. Em oito anos, 510 mil trabalhadores estrangeiros passaram a fazer a contribuição ligada ao contrato de trabalho”, relatou Ana Mendes Godinho.

A Ministra explicou que os números, além de dimensionar a quantidade de trabalhadores estrangeiros que estão a entrar no mercado de trabalho em Portugal, mostram que Portugal precisa atrair estes trabalhadores, principalmente para “fixar talento nas organizações”.