Ter um pet na Espanha é bem comum, mas não significa que é fácil

Eu não tenho um animalzinho de estimação. Ou melhor, eu ainda não tenho um animalzinho de estimação porque, na verdade, eu quero muito ter. A questão é que ter um animal de companhia na Espanha é comum, mas nem sempre é fácil.

Quer saber mais sobre as alegrias e dificuldades de ter um cachorro, um gato ou outro animal de companhia na Espanha? Vem comigo que eu te conto!

Na Espanha há mais pets do que crianças

Na Espanha vivem cerca de 48 milhões de habitantes e mais de 30 milhões de pets. É como se 62% da população espanhola tivesse um animal de estimação. Só que, como muita gente tem mais de um pet, essa porcentagem acaba diminuindo um pouco. Na verdade, cerca de metade da população que mora na Espanha tem um ou mais animais de companhia.

Mas o que realmente me surpreendeu foi descobrir que aqui na Espanha há mais pets do que crianças. Isso mesmo. Ter um pet é mais comum do que ter filhos na Espanha.

Para ter uma ideia, no país ibérico há 9,3 milhões de cachorros e 5,8 milhões de gatos, segundo os últimos dados da ANFAAC — Associação de Fabricantes de Alimentos para Animais de Companhia. Isso sem contar os milhares de pássaros, peixes e outras mascotas (como se chamam os Pets na Espanha). Enquanto isso, segundo os últimos dados do INE (referentes a 2022), a população de crianças com idade inferior a 15 anos não chega nem a 7 milhões.

A partir desses dados fica claro também que os animais de estimação preferidos dos espanhóis são mesmo os cachorros. No dia a dia, isso fica ainda mais evidente. Eles estão por todo lado: nas ruas, nas lojas, nos parques e até no transporte público. Aliás, vamos falar mais sobre isso!

Direitos dos pets na Espanha

Quando eu me mudei para a Espanha, uma amiga do Brasil — super “cachorreira” diga-se de passagem — veio passar os primeiros dias comigo. Nessa primeira viagem dela ao país, sabe o que ela mais gostou? De ver que os cachorros podiam andar no transporte público. 

Esse é um dos direitos dos pets garantidos pela Lei espanhola de Proteção dos Direitos e do Bem-Estar dos Animais. Além disso, segundo a norma, cachorros, gatos e furões devem ser identificados com microchip. Tem mais: os donos de cachorros devem fazer um curso gratuito de posse responsável e contar com um seguro de responsabilidade civil, entre outras regras.

É verdade que nem todos cumprem a lei. Só que, na minha opinião, o fato de existir uma legislação específica e até um órgão específico do governo que trate sobre isso já é um avanço. Em comparação, no Brasil, no âmbito federal, apesar da Lei dos Crimes Ambientais abordar alguns pontos sobre a proteção animal, o tema ainda é tratado, a meu ver, de maneira genérica.

Negócios pet friendly na Espanha

Para quem, como eu, quer ter um pet na Espanha, um ponto positivo é que existem muitos hotéis, lojas, restaurantes e outros espaços de entretenimento, comércio e serviços pet friendly em terras espanholas. Mas acho que melhor do que dizer isso é te dar alguns exemplos.

Em 2021, fui comemorar o aniversário de uma amiga chilena no Tabo Bar Restaurant de Barcelona. Já na chegada me surpreendi ao ver dois cachorros da raça Golden Retriever sem coleiras deitados no chão. Ambos pertenciam aos donos do local e, por pouco, eles não se tornaram os anfitriões da festa.

Algo parecido aconteceu quando eu e meu marido fomos ao Restaurante Il Bandito, em Altea. Só que nesse caso, o pet do negócio era um simpático gatinho que, inclusive, nos recebeu na porta. Fiquei pensando se o nome do negócio não era inspirado no comportamento do bichano. Mas durante nosso jantar, pelo menos, ele se comportou muito bem e não tentou roubar nada.

Outra vez, quando fomos a Girona, um mestiço de pastor belga muito brincalhão nos recebeu em nosso alojamento, no Mirador de Can Pi. No dia seguinte, quando acordamos e abrimos a porta para apreciar a vista, ele já foi entrando sem cerimônia ao nosso quarto para pedir carinho.

Aqui em Valência, um exemplo interessante é o da Fábrica de Huellas, um café pet friendly que também conta com “A Casa dos Gatos”, uma colônia felina. É possível visitar a colônia ou até adotar um dos bichanos que vivem no local.

Também existe abandono

Além de ser muito comum ter um pet na Espanha, 8 entre 10 donos de animais de estimação os consideram como um membro da família (dados Iberzoo+Propet). Apesar disso, o abandono animal também é muito comum. A Espanha é um dos países europeus com maior taxa de abandono de animais de estimação.

Isso é o que dizem os dados das pesquisas. Mas minha experiência é um pouco distinta. Talvez porque morei antes em Floripa e lá, sim, eu via muitos cachorros abandonados, nas ruas e nas praias. Em compensação, nos meus quase seis anos de Espanha, não lembro de ter visto nenhum cachorro abandonado na rua.

Caso diferente é o dos gatos, já que os que estão livres na rua (normalmente nos parques) nem sempre são animais abandonados. Muitos deles são gatos comunitários, que vivem em colônias, estão vinculados a um território e sustentados por humanos.

Possibilidades para ter um animal de companhia na Espanha

Para ter um pet na Espanha, há basicamente três opções: adotar, comprar ou trazer o(s) seu(s) com você. Em qualquer desses casos, é preciso ter atenção a algumas questões:

• A adoção de pets só pode ser realizada em centros públicos ou entidades de proteção animal registrados na Espanha. É preciso ser maior de idade, preencher questionários de avaliação, entregar um comprovante de domicílio, firmar um contrato de adoção responsável e registrar o animalzinho na prefeitura da sua cidade;
• Para comprar um cachorro, um gato ou um furão na Espanha, é preciso entrar em contato direto com criadores devidamente registrados. Animais de estimação como esses não podem ser vendidos ou comprados em lojas;
• Se a ideia é trazer o(s) seu(s) pets com você, também é preciso cumprir com uma série de requisitos. No artigo Quanto custa ter um pet na Espanha, a redatora Renata Losso, explica em detalhe a experiência dela para trazer do Brasil as cachorrinhas Pina e a Margot. 

Outro caso é o de um casal de amigos que adotaram uma gatinha quando moravam em Portugal. Como o país faz parte da União Europeia, eles tiveram menos problemas para viajar com ela pela Europa e trazer a Mia desde lá quando se mudaram para a Espanha.

Não é fácil se morar de aluguel

Uma das dificuldades para quem quer ter um pet é morar de aluguel na Espanha. Melhor dito: a dificuldade é encontrar um imóvel cujo proprietário aceite que o inquilino tenha um animal de estimação. Nos anúncios de aluguel, muitos já especificam: “no se acepta mascotas” (não se aceitam pets).

Aliás, quem mora de aluguel e quer adotar um pet na Espanha precisa entregar, além do comprovante de domicílio, um documento firmado pelo proprietário autorizando o inquilino a ter animais. Por isso eu digo que ter pet na Espanha é comum, mas não é fácil.

É exatamente por isso que eu e meu marido ainda não temos um cachorrinho. Nosso contrato de aluguel atual deixa bem claro que não é permitido ter um pet.

Apesar da dificuldade de encontrar um lugar maior, com bom preço e que nos autorize a ter um companheiro canino, o plano segue de pé.

Ter um animalzinho e compartilhar apartamento

Se já é complicado ter um animal de estimação e morar de aluguel, a dificuldade aumenta no caso de compartilhar apartamento na Espanha. Isso, claro, porque além do proprietário do imóvel permitir a posse de animais, os demais companheiros de apartamento também precisam concordar.

Apesar das dificuldades, não é impossível. Antes de eu e meu marido decidirmos morar juntos, ele vivia em um apartamento compartilhado em que um dos residentes tinha um gatinho, o Willow.

Também há casos em que já existe um gato, cachorro ou outro animal doméstico no imóvel compartilhado. Em situações como essas, é preciso também que os pets sejam gradativamente acostumados a conviver.

Eu também quero um pet

Ter um pet é sempre um motivo de alegria, ainda que haja alguma eventual preocupação. Além disso, sempre implica em responsabilidade. No caso de ter pet na Espanha, essa responsabilidade é melhor regulamentada, mas a alegria envolvida nessa relação é a mesma. 

A maior dificuldade é na hora de alugar e/ou compartilhar um apartamento que aceite o(s) seu(s) pet(s). Como vantagem, há cada vez mais lugares que permitem a entrada de animais ou até oferecem produtos e serviços específicos para os companheiros de quatro patas. 

Se você, assim como eu, quer ter pet na Espanha, acho que é bom estar ciente de tudo isso. E quer saber? Apesar da impossibilidade atual, eu já comecei a pensar até no nome do meu futuro filho canino. “Bobby, Lulu, Lulu, Bobby, Snoopy, Rocky, Rex, Rintintin”, sugere o Chico na música dos Saltimbancos.