Alemanha, Croácia, França, Holanda, Itália, República Checa e Suíça. Esses são alguns dos países europeus que visitei antes de vir morar na Espanha. Apesar de estarem todos no mesmo continente, é claro que cada um tem suas particularidades. Só que agora, depois de quase seis anos vivendo por aqui, acho que entendo melhor as semelhanças e diferenças entre a Espanha e o resto da Europa.

Índice Europa, União Europeia e outros grupos Semelhanças e diferenças na prática A cultura mediterrânea Sol e calor Rueiros e expressivos Os vários idiomas A siesta Os horários espanhóis Comparações à parte

Quer saber o que a Espanha tem de especial? O que a diferencia de outros países da Europa? Vem comigo neste passeio pelo velho continente!

Europa, União Europeia e outros grupos

Faz alguns dias, acompanhei meu marido quando ele foi votar nas Eleições da União Europeia. Fiquei pensando sobre o tema e descobri alguns dados bem esclarecedores.

A Espanha faz parte da:

  • Europa: continente formado por 49 países (segundo a definição do Conselho Europeu);
  • Espaço Schengen: área de livre-circulação entre 29 países europeus;
  • União Europeia (UE): comunidade política formada por 27 países;
  • Zona do Euro: grupo de 20 países com política monetária comum.

A partir daí já fica fácil perceber que a Espanha se assemelha em vários aspectos a outros países europeus que fazem parte desses grupos. Ao mesmo tempo que se diferencia dos não-integrantes.

Semelhanças e diferenças na prática

Quem tem passaporte europeu pode ir da Espanha à Suíça, por exemplo, sem necessidade de mais comprovações, já que ambas fazem parte do Espaço Schengen. Mas vai precisar trocar dinheiro, isso, sim, já que a Suíça não faz parte da eurozona (nem da UE).

Por outro lado, se decidir ir até a Finlândia ou o Chipre, não precisa se preocupar nem com a documentação, nem com o câmbio.

Só que, além dessa mobilidade facilitada, a Espanha e o resto da Europa — os demais países da União Europeia — têm outros pontos em comum. Neste caso, se trata sobretudo de políticas e normas: dos direitos do consumidor à privacidade de dados, das normas de mercado aos direitos humanos.

Alguns exemplos cotidianos: em todos os países da UE, se trabalha no máximo 48h por semana e as férias mínimas são de quatro semanas ao ano.

Em todos, os produtos têm pelo menos dois anos de garantia. E — como comentei na coluna compras nos supermercados espanhóis — em todos, há restrição no uso de sacolas plásticas finas. Isso só para ter noção de algumas semelhanças.

A cultura mediterrânea

Como o próprio nome diz, o mar mediterrâneo (Medi Terraneum) está em meio a várias terras. Através desse corpo de água salgada a Espanha e outros países da Europa (e também da África e da Ásia) se conectam.

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Antes eu pensava que essa conexão era apenas geográfica. Mas foi só chegar para morar na Espanha para perceber o valor que muita gente dá à cultura mediterrânea. Pelo que já reparei, os maiores reflexos disso estão no clima e na gastronomia.

Alcachofra na Espanha
Original do Mediterrâneo, a alcachofra é muito consumida por aqui. Quase não sobrava para fotografar. Foto: Tátylla Mendes

Ou seja, países como Espanha, França, Grécia e Itália têm (pelo menos em partes) um clima parecido: o clima mediterrânico, temperado e de verão seco. Além disso, a gastronomia desses países também tem muitos ingredientes similares: as azeitonas, o azeite de oliva, os vinhos, os peixes e embutidos, as frutas e verduras, etc.

Sol e calor

Tem gente que acha que o sol e o calor são alguns dos fatores que diferenciam a Espanha do resto da Europa. Mas devido a esse clima mediterrânico, eu diria que depende dos pontos de referência.

Por um lado, é verdade que na maior parte do território espanhol costuma fazer bem menos frio do que em países como Noruega, Suécia ou até Dinamarca e Alemanha. Só que, em Portugal, no sul da França, no centro e sul da Itália e na Grécia, faz sol e calor como aqui na Espanha.

Por outra parte, o extremo-norte espanhol tem um clima mais parecido ao do norte da França, com temperaturas menores e maior volume de chuvas. Enquanto a fronteira leste da Espanha tem clima alpino.

Rueiros e expressivos

O céu azul e as temperaturas mais amenas são ótimos incentivos para sair de casa, passear ao ar livre, encontrar com amigos e conversar. Conversar, muitas vezes, falando alto.

Não quero generalizar e dizer que os espanhóis são ruidosos. Mas comparo duas situações similares: no metrô de Amsterdam eu praticamente só ouvia cochichos. No metrô daqui, por outro lado, a trilha sonora é variada: uns com música, uns falando no telefone, uns conversando.

Eu diria que os espanhóis são bastante expressivos (mais semelhantes aos italianos, talvez). São diretos e defendem suas opiniões com argumentos francos.

Gostam da vida ao livre, gostam de conversar, são de fácil contato. O cumprimento com dois beijinhos na bochecha é bem comum. Mas se não for com amigos íntimos, o contato físico não costuma passar desse ponto.

Os vários idiomas

Na França se fala francês. Na Alemanha se fala alemão. Na República Tcheca se fala tcheco. Na Espanha se fala… castelhano, catalão, euskera, galego e valenciano (entre outras línguas).

O castelhano (que teve origem em Castilha) é o que se conhece comumente como espanhol. É o idioma oficial de todo o país. Os demais são reconhecidos pela própria Constituição Espanhola como cooficiais em suas respectivas Comunidades Autônomas.

Pesquisando um pouco, descobri que essa utilização de vários idiomas é outro fator que diferencia e, ao mesmo tempo, assemelha a Espanha e o resto da Europa.

Diferente do caso espanhol, metade dos países que fazem parte da UE têm apenas um idioma oficial. Só que na outra metade, como aqui, se fala mais de um idioma. Em Portugal, por exemplo, além do português há o mirandês, ainda que, neste caso, seja uma língua minoritária falada apenas em uma cidade.

Aviso no idioma valenciano
Um aviso dentro do metrô em valenciano e em castelhano. Foto: Tátylla Mendes

O caso da Espanha é mais parecido, provavelmente, ao da Itália, onde são utilizados diferentes idiomas cooficiais em determinadas regiões. Aliás, aqui em Valência é bem comum ouvir o valenciano na rua, na TV, nas comunicações oficiais, etc. Não se trata de uma língua minoritária. Dos mais de 5 milhões de habitantes da Comunidade Valenciana, mais de 80% fala valenciano.

Sobre o caso do catalão eu já tinha comentado na coluna morar em Barcelona é morar na Espanha?

A siesta

Depois de tantas discordâncias e coincidências, me pergunto se a siesta— aquela dormidinha depois do almoço — é o hábito que mais diferencia a Espanha e o resto da Europa. Pesquisando novamente, descubro que não é bem assim. Dizem que muitos alemães e italianos também têm o costume de fazer um pequeno “riposo” após comer.

Além disso, como comentei na coluna Mitos sobre a Espanha, por aqui nem todos dormem e nem tudo fecha. Alguns estabelecimentos turísticos e lojas de grandes marcas em grandes centros urbanos costumam permanecer abertos o dia inteiro.

Mas sim, muitas lojas e estabelecimentos públicos fecham para a siesta. Até mesmo nas grandes cidades da Espanha é comum encontrar boa parte do comércio fechado entre as 14h e as 16h30 ou 17h.

Os horários espanhóis

Não sei se é devido ao clima mediterrânico e do hábito de desfrutar da vida na rua. Não sei se a siesta também não acaba influenciando. O que sei é que o que realmente diferencia a Espanha e o resto da Europa são os horários.

Não me refiro ao fuso ou ao horário oficial, mas sim aos horários de atividades tão banais como comer e dormir.

Por aqui é bem normal ter uma reunião marcada para as 12h ou 12h30 porque a hora de almoçar mesmo é a partir das 14h. O jantar costuma ser só depois das 21h30. Um estudo publicado na revista Science ainda confirma que a Espanha é o país em que mais tarde se vai dormir, normalmente depois da meia-noite.

Aliás, uma coisa que acho engraçada é quando dizem, por exemplo, “me fui a comer a las 2h del medio-día” (fui comer às 2h do meio-dia). Ou quando você marca de encontrar com alguém às 21h e a pessoa te diz “perfecto, nos vemos hoy por la tarde” (perfeito, nos vemos hoje de tarde). Me dá a impressão de que os espanhóis têm uma ideia meio fluida do tempo.

Comparações à parte

É claro que a culinária espanhola é diferente da italiana, da francesa e demais. É claro que a arquitetura de uma cidade como Barcelona é diferente da que encontramos em uma cidade como Amsterdam. É claro que há muitas diferenças entre cada um dos países da Europa. E é bem verdade que comecei esta coluna te convidando para descobrir o que a Espanha tem de diferente.

Só que acabei percebendo que a Espanha e o resto da Europa tem, na realidade, muitas coisas em comum. Alguns aspectos se assemelham mais a um ou outro país, a uma ou outra região. Mas a questão é que existem muitas semelhanças, assim como existem (é claro) muitas diferenças.

Então, o que a Espanha tem de especial?  Na minha opinião, é a mescla de cada uma das suas características (sejam semelhantes ou diferentes de outros países) que torna a Espanha um país único.

É o fato de ser um país integrante da UE (da eurozona e de outros grupos), com cultura mediterrânea, bom clima, gente rueira e expressiva, com idiomas e horários próprios. É o fato de serem muitos países em um (como todos), mas com uma combinação que só se encontra aqui.

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