Estava eu dia desses em um supermercado no Porto aguardando minha vez de pagar, quando me pego prestando atenção à conversa de dois jovens portugueses que estavam na minha frente. Eles falavam sobre um evento de música que iriam mais tarde. Mal sabia eu que começava ali o tema para esta coluna: linguagem em transição.

Pessoas conversando em Portugal
Índice Não parou por aí A linguagem em transição constante e acelerada Influência do inglês: uma realidade inevitável A influência do Brasil no processo de transição de linguagem Preocupação com a preservação da língua Linguagem em transição: um fenômeno dinâmico e em evolução

O que me chamou a atenção foi que, de 10 palavras do papo, 5 eram em inglês. Ao mesmo tempo, eles usaram algumas expressões típicas brasileiras como “maneiro” e “grama”. Para mim, pareceu algo natural e nem um pouco forçado.

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Não parou por aí

No mesmo dia, quando cheguei em casa, liguei a TV. Estava zapeando pelos canais e parei para ver uma receita num canal a cabo. Lá estava uma mulher preparando um prato típico da Angola.

A cada etapa do preparo ela soltava um “so yummy” (algo como “tão gostoso” em inglês). Ela também usou dezenas de outras palavras na língua inglesa e algumas expressões do português do Brasil como “geladeira” e “bala”, o que achei curioso. Aqui o normal seria falar “frigorífico” e “rebuçado”.

A linguagem em transição constante e acelerada

Acredito que o português está mudando bastante e isso fica ainda mais nítido para quem mora em Portugal há alguns anos. Os jovens estão no topo do processo. É mesmo uma linguagem em transição e muitas vezes nem percebemos isso.

Quando usamos palavras ou expressões em inglês no meio das frases, significa que aquilo foi incorporado ao nosso dia a dia com sucesso. Afinal, de onde você acha que vieram palavras como milkshake, hambúrguer, chip, freezer, blazer e wi-fi? Um spoiler: não são palavras da língua portuguesa!

O inglês é cada vez mais evidente em momentos corriqueiros do Brasil e de Portugal, mexendo com as palavras que a gente usa e como a gente se comunica. Ao mesmo tempo, em Portugal, acontece um verdadeiro “boom” de expressões brasileiras, tudo devido ao número de imigrantes brasileiros, das redes sociais e da cultura pop do Brasil.

Esse papel de influência de outra língua no Brasil já coube ao francês, tanto que em nosso vocabulário usamos centenas de palavras que vieram desse idioma: sutiã, boné, bijuteria, bufê, mousse, garagem, creche e por aí vai. Já tinha se tocado dessa linguagem em transição?

Influência do inglês: uma realidade inevitável

A globalização e a predominância do inglês como língua no mundo atual exercem uma influência inegável sobre o português falado em Portugal. Essa influência se manifesta de diversas maneiras e momentos ao longo do nosso dia.

Palavras e expressões em inglês são frequentemente utilizadas em anúncios, programas de televisão, músicas, no mercado de trabalho e até mesmo na linguagem informal do dia a dia.

É cada vez mais comum ver lojas em “Sale” em vez de “Promoção” ou “Saldos”. Quase todos os restaurantes em Portugal tem um serviço de “Take away” e não “Para levar”. Termos como “briefing”, “prospect” e “feedback” fazem parte do vocabulário comum de muitos portugueses no mundo corporativo, principalmente entre as gerações mais novas.

O inglês domina o mercado de trabalho português

Para atuar em muitas áreas por aqui, é preciso ter a capacidade de se comunicar fluentemente em inglês ou se sentir confortável de usar palavras e expressões deste idioma no meio de uma fala.

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Não se engane. A maioria das vagas de emprego oferecidas no país estão nessa língua. O inglês é entendido como algo básico. Se você não sabe ou está com o idioma meio enferrujado, é altamente recomendável que resolva a situação, antes de se candidatar. Até mesmo para trabalhar num restaurante, pede-se o inglês.

Restaurante com letreiro em português e inglês
O uso do inglês entrou no cotidiano do Brasil e de Portugal e se transformou em normalidade. Foto: Maurício Martins.

Dou um exemplo que ocorre ao meu lado no exato momento em que escrevo esta coluna: meu marido trabalha na área de TI em Portugal e está numa “call” com um colega português. Em menos de 1 minuto de conversa ouvi expressões como “deployment”, “task” e “environment”. E tudo flui naturalmente.

Eu mesmo já prestei serviços para uma empresa local no setor de marketing e conteúdo e, apesar de não ter de me comunicar em inglês o tempo todo, o uso de anglicismos era extremamente comum. Termos como “dashboard”, “newsletter” e “user experience” faziam parte do meu dia a dia.

É ou não uma linguagem em transição?

Alto nível de proficiência

O domínio do inglês por parte dos portugueses, especialmente os mais jovens, facilita a assimilação e contribui para sua incorporação à língua. Os jovens europeus geralmente falam inglês muito bem e conseguem compreender e se expressar facilmente. Isso é especialmente útil em contextos internacionais e de negócios.

Sem falar que a troca linguística facilita a comunicação internacional. Profissionais que falam vários idiomas têm vantagens em negociações, parcerias comerciais e oportunidades de emprego globalmente.

A influência do Brasil no processo de transição de linguagem

Ao mesmo tempo que o inglês marca presença no português de Portugal, observa-se um aumento no uso de expressões brasileiras, principalmente entre crianças e adolescentes.

Essa tendência está diretamente relacionada à popularidade de influencers e youtubers brasileiros nas redes sociais, acompanhados com entusiasmo pela juventude lusitana. Sem falar da influência gigantesca das novelas e músicas brasileiras na cultura local.

A migração de brasileiros para Portugal nitidamente contribui para esta tendência. Afinal, as crianças e adolescentes têm mais contato com o português brasileiro no seu ambiente social, como nas escolas e universidades. Os conteúdos em português do Brasil são mais apelativos, descontraídos e coloridos, em comparação com o que é produzido pelo mercado europeu.

Não posso deixar de comentar: o sotaque brasileiro é como um abraço quentinho para a maioria dos ouvidos lusitanos. Principalmente para os mais jovens, ele soa animado e cativante, tornando os conteúdos em português do Brasil super atrativos.

Essa influência está se espalhando. A versão brasileira da língua portuguesa está dando seus passinhos no cotidiano de Portugal. É uma transição linguística que está acontecendo a todo vapor!

Preocupação com a preservação da língua

A crescente utilização de anglicismos e “brasilianismos” em Portugal tem gerado debates e preocupações em alguns segmentos da sociedade. Argumenta-se que o uso excessivo de estrangeirismos pode ameaçar a identidade cultural e a riqueza da língua portuguesa.

No entanto, é importante considerar que nem todos os anglicismos são prejudiciais. Alguns foram aportuguesados, enquanto outros permanecem com sua grafia original, principalmente no português do Brasil.

Já houve até quem reclamasse de tamanha influência e achasse que as escolas deveriam tomar uma atitude para evitar a “morte do bom português”.

Sim, acredite, há pessoas por aqui que adoram dizer que falamos “brasileiro” e não “o português correto”. No entanto, acho curioso quem faz queixa quando ouve jovens falando coisas típicas do português do Brasil, mas não fala nada sobre as expressões em inglês.

Difícil conceber que duas sociedades bem diferentes, separadas por um oceano gigante, vão continuar falando do mesmo jeito ao longo dos anos. As diferenças são normais e vão acontecer sempre.

Cartaz de restaurante japonês
A expressão “take away” faz parte da cultura portuguesa e dificilmente alguém desconhece o significado. Foto: Maurício Martins.

É o tipo de discussão que não leva a lugar algum. No entanto, gostaria de fazer uma breve ponderação, “puxando a sardinha” um pouco para o nosso lado.

Se não fosse o Brasil, a língua portuguesa teria tanta relevância assim, em âmbito global? O mundo conhece bem a bossa-nova de Tom Jobim, a voz potente de Elis Regina, os livros de Paulo Coelho e o funk de Anitta, além de tantos outros talentos que eu levaria horas para citar. Sem falar de arquitetos, engenheiros, pintores e poetas. E quantos artistas portugueses são reconhecidos mundialmente?

Não há nenhuma intenção de diminuir a cultura portuguesa; pelo contrário, é importante reconhecer a riqueza e a diversidade cultural do país. Apenas destaquei fatos sobre o impacto e a influência, neste caso da cultura brasileira, em contextos globais.

Quando as pessoas de diferentes nações compartilham suas línguas, há uma troca de ideias, tradições e perspectivas culturais. Uma linguagem em transição enriquece a experiência de todos os envolvidos e promove a compreensão mútua.

Os donos da língua?

Também já ouvi que “os portugueses são os donos da língua”, o que é um conceito bastante equivocado.

No livro “Assim nasceu uma língua: sobre as origens do português”, o linguista lusitano Fernando Venâncio acaba com essa visão. Ele explica que o português é uma variação do galego, falado por pastores numa parte da Espanha.

Linguagem em transição: um fenômeno dinâmico e em evolução

A evolução da língua é fascinante. Concordo plenamente com os que dizem que a língua é um organismo vivo, em constante transformação.

A influência de outras culturas e idiomas é inevitável, especialmente em um mundo globalizado como o nosso. A língua é dinâmica e sempre incorpora novos termos, mas é essencial encontrar um equilíbrio entre a adoção de palavras estrangeiras e a preservação da nossa língua materna.

Essa mistura de expressões e palavras é uma característica interessante desse processo de linguagem em transição.

Afinal, é assim que a língua se renova e se adapta às necessidades dos falantes. E o importante é que possamos nos entender, independentemente das variações regionais ou influências externas. E, pense bem, a troca linguística ajuda imigrantes a se integrarem em novos países, criando laços com a comunidade local e superando barreiras culturais.

Seja em Portugal, no Brasil ou em qualquer outro lugar, a diversidade linguística é algo que devemos valorizar. Afinal, é através dela que nos conectamos, compartilhamos histórias e compreendemos diferentes perspectivas.

E você? O que pensa sobre o assunto?

Confira também o nosso dicionário de português de Portugal. Até a próxima!

*A opinião dos colunistas não reflete necessariamente a opinião do Euro Dicas.