Cada vez mais, pessoas de todo o lugar do mundo mudam para a Ilha Esmeralda para estudar e trabalhar. Entre as nacionalidades que mais procuram o país para chamar de lar, destacamos os brasileiros, atraídos por boas oportunidades de emprego, um dos mais altos salários da Europa e pela qualidade de vida oferecida pelo país. Mas, afinal, o imigrante brasileiro é bem recebido na Irlanda?

Acompanhe nosso artigo, vou contar como é a chegada na Irlanda e a recepção dos brasileiros pelos irlandeses.

A receptividade dos irlandeses com brasileiros

Em 2020, a Irlanda foi classificada no top 10 do Migration Policy Index por ter “uma abordagem abrangente à integração, que garante plenamente a igualdade de direitos, oportunidades e segurança para imigrantes e cidadãos”, de acordo com matéria da CNN divulgada em março de 2024.

A receptividade dos irlandeses com os imigrantes brasileiros é geralmente bastante positiva. Conhecidos por sua hospitalidade e energia contagiante, os recém-chegados são acolhidos com uma abordagem aberta e inclusiva.

A Irlanda tem uma longa história de emigração, contudo, nas últimas décadas tem acontecido um movimento contrário e migratório. O país se transformou em um destino bastante atraente para imigrantes que procuram trabalhar e estudar, especialmente para fazer intercâmbio na Irlanda e aprender inglês.

E é graças a essa própria jornada de emigração dos irlandeses, que os irlandeses entendam a importância de receber bem os imigrantes.

E por que a Irlanda?

Essa mudança de fluxo migratório se deve principalmente ao impressionante crescimento econômico do país que resultou na Irlanda como um hub de empresas de tecnologia, reconhecida também pela qualidade de seu ensino superior e cursos de pós-graduação renomados. Muitos brasileiros começaram a mudar atrás de oportunidades de emprego na Irlanda.

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Especialmente, desde que o país se tornou esse imã de grandes companhias, precisou também contar com mão de obra qualificada, que muitas vezes, vem de fora das suas fronteiras. Isso, ligado a sua própria história de migração, faz dos irlandeses um povo receptivo e simpático.

Os brasileiros e as cidades na Irlanda

De acordo com um levantamento da Embaixada Brasileira, mais de 60% dos mais de 70 mil imigrantes brasileiros que moram na Irlanda, escolhem a capital do país, Dublin, como lar. Muitos ainda optam por outras conhecidas cidades irlandesas, como Cork, Galway e Limerick.

Todas essas cidades são rodeadas por uma certa atmosfera cosmopolita e pela presença significativa de estudantes e profissionais de várias partes do mundo. Isso, claro, também ajuda na integração dos imigrantes recém-chegados e auxilia para que o imigrante brasileiro sinta-se bem recebido na Irlanda.

E para os brasileiros que decidem se mudar para cidades mais interioranas, saiba que a receptividade e hospitalidade podem ser ainda mais gentis, inclusive envolvidas em um quê de curiosidade.

“Atualmente, vivo em uma pequena cidade de pouco mais de 15 mil habitantes, distante 25 km da capital irlandesa. Desde que mudei, há aproximadamente três anos, os vizinhos mais próximos tentaram se aproximar. Conversando, perguntando e inclusive, trazendo flores para minha mãe, quando viram que ela gostava de cuidar do pequeno jardim, plantando mudas na primavera”.

Nem todos trazem flores

Mas é claro que não se pode generalizar e fechar os olhos para certos grupos anti-imigração. Há um grupo de extrema-direita que é uma minoria pequena, mas em crescimento. Calcula-se que sejam entre 200 e 300 membros, inclusive usando de publicações do ídolo de MMA irlandês, Connor McGregor, para apoiar suas ideais.

Eles chamaram ainda mais a atenção de todos com ataques após um atentado à faca no final de 2023. Na ocasião, manifestantes entoavam o slogan anti-imigração, “get them out” (corram com eles).

Foi justamente um imigrante brasileiro, Caio Benício, que parou o agressor com seu capacete e evitou uma tragédia ainda maior contra as crianças irlandesas. Os grupos anti-imigração foram então influenciados por publicações do lutador, que reconheceu Caio Benício como herói.

Esse episódio, de certa forma, fez com que muitos imigrantes brasileiros fossem melhor tratados por este pequeno grupo anti-imigração. Mas o ocorrido não freia o ataque contra imigrantes entregadores, sejam eles de outras nacionalidades ou brasileiros.

Uma incompreensível hostilidade contra entregadores

Também no ano de 2023 aconteceram alguns protestos pedindo mais segurança para entregadores de aplicativo em Dublin. A classe lamenta os episódios de ataques e agressões que têm sido recorrentes contra imigrantes que trabalham como entregadores.

Os agressores são em sua maioria jovens e adolescentes que vivem especialmente em regiões centrais de Dublin 1 e Dublin 7. A perseguição desses grupos contra estrangeiros é grande e expõe a segurança desses trabalhadores.

Entregador pelas ruas de Dublin, na Irlanda.
Os entregadores são uma das categorias que mais sofre ataques por parte de irlandeses anti-imigração.

Na maioria das vezes, eles roubam bicicletas e motos para destruir o instrumento de trabalho dos imigrantes; jogam pedras e ovos e agridem verbalmente os entregadores, tornando-se um desafio para a segurança na Irlanda.

Como em qualquer país que enfrenta mudanças demográficas rápidas, a Irlanda também experimenta desafios sociais, incluindo a integração de imigrantes por questões de xenofobia ou discriminação.

Embora relativamente raras e provenientes de um pequeno grupo, ainda são um problema, já que o país também depende de imigrantes brasileiros que fizeram e continuam a fazer parte do sucesso econômico do país.

A influência do gênero

A discriminação contra imigrantes na Irlanda pode manifestar-se de diferentes formas e uma delas pode ser influenciada pelo gênero. As experiências de discriminação podem variar significativamente entre homens e mulheres imigrantes, refletindo padrões globais de desigualdades de gênero.

O mercado de trabalho é um exemplo. Mulheres imigrantes podem enfrentar desigualdades salariais mais pronunciadas e são frequentemente empregadas em setores caracterizados por menos benefícios e proteções trabalhistas, como limpeza, cuidados pessoais e assistência domiciliar (especialmente como babás).

Há também uma tendência maior de imigrantes mulheres serem mais vulneráveis a formas de violência doméstica ou exploração sexual, muitas vezes exacerbadas por sua dependência legal e econômica. Aliás, não são raros os casos de brasileiras que contam que já sofreram abusos de chefes.

Homens no mercado de trabalho irlandês

Já os homens imigrantes podem ser mais propensos a serem empregados em trabalhos físicos e pesados, como construção. Embora muitas vezes bem remunerados, esses empregos são também mais sujeitos a riscos de segurança e instabilidade de emprego.

Na Irlanda, como já citamos também, os drivers (entregadores) são predominantemente do sexo masculino e fazem parte de um dos grupos que mais sofre ataques por parte de grupos de irlandeses anti-imigração.

Fora do mercado de trabalho há conflitos

E fora do mercado de trabalho, já ouvi relatos de brasileiras denunciando homens com os quais se relacionaram. Muitas contam que sofreram preconceito por eles considerarem que as mulheres imigrantes estão apenas buscando cidadania irlandesa ou estabilidade financeira.

A receptividade no mercado de trabalho irlandês

No geral, os brasileiros que trabalham na Irlanda são muito bem-vistos pelos irlandeses no meio profissional. Isso porque, os brasileiros têm uma ótima postura nas empresas e estabelecimentos onde trabalham. Geralmente, cumprem uma carga horária alta, evitam faltar e aprendem rápido as funções.

Isso é bastante valorizado pelos irlandeses, que reconhecem o esforço e costumam contratar mais brasileiros através de indicações de outros funcionários ou por testes rápidos, os trials.

A diferença de imigrantes brasileiros qualificados x não qualificados na Irlanda

Devido a sua alta qualificação, muitos imigrantes brasileiros mudam para a Irlanda já com visto de trabalho para desempenhar funções especialmente nas áreas com alta demanda no país. São profissionais de TI, de marketing, da área da saúde, engenheiros e diretores.

Os salários para tais cargos costumam ser altos e as vagas são geralmente em grandes empresas ou até em companhias multinacionais, que já adotam como política interna a diversificação de nacionalidade dos seus times. Por isso, não há muitos relatos de brasileiros que sofrem discriminação nessas condições.

Já brasileiros que mudam para Irlanda para aprender inglês, com visto de estudante, na maioria das vezes precisam se inserir no mercado trabalhando com limpeza, em obra, restaurantes, entregas de aplicativo e cuidando de crianças.

Isso acarreta menos benefícios e proteções trabalhistas, além de também deixarem os imigrantes brasileiros mais expostos aos abusos e agressões que citamos ao longo do artigo.

Home sweet home

Lar doce lar. Afinal, dá mesmo pra se sentir em casa morando na Irlanda? Minha resposta pessoal é sim! Mas adianto, nem todo brasileiro vai concordar comigo.

Quando mudamos para um país com diferenças culturais, com outra língua oficial que não o português, e muitas vezes começando uma vida e uma carreira do zero, vamos enfrentar dificuldades. Vamos ouvir que nosso inglês não é bom para aquele emprego. Vamos ouvir que não temos qualificação em escolas irlandesas no currículo. Mas nós podemos conquistar tudo isso.

Meninas em Dublin
Se você gostar da vida no país, a tendência é que com o passar do tempo comece a se sentir em casa.

Muitos dizem que você sempre será imigrante. É verdade. Mas diferente do que eles pensam como algo negativo, eu, Fernanda, não vejo isso como um problema. Ser imigrante é nobre, um exemplo de determinação e valentia.

Precisamos nos orgulhar de ter atravessado o oceano, deixando família, amigos, conforto, às vezes uma carreira para trás, e começarmos do zero aqui! Aprendemos a língua, experimentamos trabalhar nos mais diversificados empregos, nos especializamos, pagamos as taxas como todos os cidadãos trabalhadores do país e passamos a vivenciar a cultura da Irlanda.

É preciso admitir que há sim um pequeno grupo anti-imigrantes, mas eu garanto: na minha experiência, a maioria dos irlandeses vê os brasileiros que mudam para a Ilha Esmeralda com uma coragem admirável e fazem com quem nos sentimos assim.

Nos acolhem e diminuem as diferenças para que possamos, como imigrantes, nos sentir bem recebidos na Irlanda e também nos sentir em casa na Ilha.

Há alguns anos, o slogan usado no desfile de St. Patrick Day, dizia: “home is where the heart is” (lar é onde o coração está). É por isso que considero a Irlanda minha casa, e também é assim que a Ilha nos recebe.