A vida profissional na Alemanha (ou em outro país) como imigrante costuma ser uma montanha-russa. Quando saímos do nosso país e entramos em contato com novas formas de se viver e ver o mundo, mudamos.

Morar na Alemanha por 12 anos me deu uma perspectiva completamente diferente sobre trabalho e carreira do que tinha antes de me mudar para o país. Quando cheguei a Berlim em 2011, nunca poderia imaginar o rumo que a minha trajetória profissional como imigrante tomaria.

Planos mudam, mas não dão necessariamente errado

Cheguei para morar em Berlim em 2011 com a intenção de fazer um mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Estudaria alemão por um ano e depois me candidataria para o mestrado.

No início, morava em frente a um albergue onde me hospedei durante as minhas duas primeiras semanas em Berlim e recebia quem chegava no meio da noite em troca do aluguel do apartamento. Este foi meu primeiro trabalho na Alemanha.

Além do interesse em temas relacionados ao meio ambiente, eu também gosto muito de viajar. Quando pintou um trabalho para o Brasil como colaboradora de um guia de viagens sobre a Europa, eu não pensei duas vezes. Lá fui eu deixar o curso de alemão para viver este sonho por um tempo.

Roberta Schmoi durante o mestrado na Alemanha.
Adorei fazer o mestrado na Alemanha, e por muitos anos trabalhei como guia turística. Foto: Roberta Schmoi

A primeira mudança na vida profissional na Alemanha

Eu já estava em Berlim há quase um ano quando me deparei com o curso de mestrado em Patrimônio da Humanidade no diretório do DAAD. Eu teria 10 dias para traduzir todos os documentos para alemão, conseguir cartas de recomendação e escrever a minha candidatura, mas valeria a pena.

E foi assim que o curso de meio ambiente e sustentabilidade foi por água abaixo. Eu já era outra e seguir uma trajetória profissional na Alemanha mais rentável deixou de ser prioridade.

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Os estudos foram ótimos, mas carreira me fez refletir

O mestrado na Alemanha foi genial, gostei tanto que achei que a minha carreira seguiria certamente uma carreira acadêmica. Na época eu trabalhava como assistente de realocação para uma empresa local. Acompanhava profissionais de TI importados por grandes empresas em todo o processo burocrático alemão.

Não consegui bolsa para o doutorado na Alemanha, as opções para pesquisa em Humanas para estrangeiros que já estão há mais tempo no país eram escassas, por isso mantive meu trabalho.

Durante o doutorado, também trabalhei como assistente de pesquisa por uma pequena bolsa de estudo da universidade. A trajetória profissional na Alemanha, mesmo a dos mais privilegiados como eu, costuma envolver se dobrar nos quinhentos.

“A coisa começou a apertar e foi quando comecei a perder meu cabelo (!) que parei para refletir o que era uma carreira e se eu realmente queria uma”.

Outra perspectiva sobre o papel do trabalho

Os alemães veem o trabalho de uma maneira diferente. Bom, pelo menos em Berlim é assim. O trabalho é apenas um trabalho. Ninguém pergunta “o que você quer ser quando crescer?” ou “o que você é?”.

Ser e trabalhar são verbos bem distintos e quando comecei a interiorizar essa premissa, me senti mais livre para ser.

Trajetória profissional na Alemanha me fez entender que ser e trabalhar são coisas diferentes.
Trabalhar sem perder a qualidade de vida é muito libertador. Foto: Roberta Schmoi

Deixei o doutorado. Já sabia que não queria voltar para o Brasil para lecionar e a minha pesquisa tinha tomado um caminho muito mais teórico do que eu gostaria. Passei a me perguntar que tipo de coisa gostaria de passar o dia fazendo.

Este é um privilégio dos países mais ricos, é verdade. Como a maioria tem o suficiente, carreira não é sinônimo de status social. Ao morar na Alemanha tive o luxo de rever conceitos e passei a cogitar treinamentos em padaria e floricultura, além de herbalismo.

Sim, na Alemanha quase toda profissão exige um treinamento formal que não precisa ser universitário. Apenas profissões teóricas exigem ensino universitário, mesmo que este cenário esteja começando a mudar desde que o país passou a participar do Tratado de Bolonha que unifica o sistema educacional europeu.

Últimas transformações

No Brasil, trabalhei por alguns anos como fotógrafa de comida e eventos e, durante a minha primeira licença maternidade, me dei conta que gostaria de voltar para a fotografia.

Passei a trabalhar primeiramente como fotógrafa de famílias. Fiz isso por cinco anos e fui muito feliz assim. Trabalhava apenas o suficiente, pois a carreira já não precisava ser uma prioridade.

Escrevi um livro bem prático sobre o que queria passar no meu doutorado e passei a dar passeios guiados exclusivos sobre o Muro de Berlim, meu estudo de caso principal na Academia. Fiz isso por sete anos. Também voltei a escrever sobre viagens e pude me dedicar a muitos hobbies.

Trajetória profissional na Alemanha envolveu o setor de turismo.
Por muitos anos, o meu trabalho em Berlim, foi de guia de turismo e tenho ótimas recordações. Foto: Roberta Schmoi

Porém, com a pandemia muita coisa mudou e decidi me arriscar em um caminho que envolvesse um trabalho mais tradicional, com uma remuneração mais segura.

Hoje trabalho para uma empresa de tecnologia em tempo parcial, faço voluntariado para projetos nos quais acredito e escrevo para o Euro Dicas, Euro Dicas Turismo e outras publicações. Acredito que a minha trajetória profissional na Alemanha me ajudou a quebrar paradigmas e a viver uma vida mais autêntica.

Espero que tenha te inspirado a tentar também!